sexta-feira, 30 de março de 2012

CABECEIRAS DE BASTO NOS ANOS 70 DO SÉC XIX 5

Pormenor de postral ilustrado de 1900.
Entrada da vila para quem vem pela estrada de Fafe por Várzea Cova
Á esquerda vemos os edifício da antiga cadeia de que fala o texto


CABECEIRAS DE BASTO NOS ANOS 70 DO SÉC XIX


Conforme o livro “Descrição Abreviada do Concelho de Cabeceiras de Basto, Principalmente da Freguesia de S. Miguel de Refoyos Sua Capital”, por um cabeceirense, Lisboa, 1874.

V

            Tem uma regular e salubre cadeia; sobrando ainda uma parte do pavimento térreo, para arrendar, sendo seu actual inquilino, um negociante, que d´esta parte fez armazém e deposito de fazendas.
            O pavimento superior d’este edificio (que serviu de paços do concelho até 1835) serve actualmente de salla livre, para os presos distinctos. Esta situada em um largo, tendo na frente o plourinho e diversos e bons edifícios particulares. N’este largo se faz uma boa feira mensal.
            A camara municipal, cuidadosa dos interesses do concelho, projecta fazer uma outra casa, ainda em melhores condições, para a mesma aplicação, e há muito que a obra estaria concluída, se a planta tivesse regressado approvada, do ministério das obras publicas (1).   

(1) o que parece, ainda hoje está á espera.

quarta-feira, 21 de março de 2012

CABECEIRAS DE BASTO NOS ANOS 70 DO SÉC. XIX - 4



IV
A camara municipal, comprou a João António Fernandes Basto (1), 3:042 metros quadrados do edifício que foi mosteiro de monges benedictinos, denominado de Refoyos de Basto, e n´essa parte comprada, estabeleceu e estão funcionando o tribunal judicial, sessões camararias, administração do concelho, repartição de fazenda, recebedoria do concelho e escola de meninas. Na mesma parte que pertence ao município, ha mais – as aposentadorias do juiz de direito e delegado do procurador régio e empregados subalternos. Estão tambem no mesmo edifício os cartórios dos escrivães do juízo. Tudo isto alli está tão commoda e amplamento no pavimento superior, que ainda sobram muitos commodos.
            No pavimento inferior estão – escola de meninos, theatro, um café, uma loja de marceneiro, uma casa de negócio e o escriptorio do afferidos dos pesos e medidas.
Havia ainda uma ampla commodidade para a repartição do correio; porém o administrador prefere tel-a em sua casa, e, como é farmacêutico (2), está patente todo o dia, no que em nada é o publico prejudicado.

*

(1) – Seria interessante saber-se alguns dados biográficos desta pessoa. Aqui fica o desafio para buscas nos cartórios e registos.
(2) – Quem era este farmacêutico?

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CABECEIRAS DE BASTO NOS ANOS 70 DO SÉC XIX - 3

Edifício do mosteiro onde funcionava a Câmara, Tribunal e demais repatições públicas.
(Postal ilustrado de José F. Barroso)




Tem o concelho 3:600 fogos e 14:400 almas (1), aproximadamente, que pagam annualmente, de contribuição predial – 8:493$557 réis – industrial, 1:422$724 réis – sumptuária, 182$802 réis – de registo por título oneroso, 2:835$700 réis – Total – 12:934$783 réis.
Na repartição de contribuições indirectas, estão inscritos 173 (2) contribuintes, com rendimento colectável superior a 60$000 réis.
As causas cíveis regulam por 224 por anno, que, felizmente, quasi todas aqui terminam.
Tem pessoal habilitado para os differentes cargos civis, administrativos e judiciaes, pois há no concelho – oito bacharéis e três médicos; não incluindo neste número, um que reside actualmente em Braga, outro que foi para Fafe, outro, que sendo dos maiores proprietários do concelho, vive hoje fora d’elle.
Afora estes bacharéis, ainda são d´aqui, um juiz do supremo tribunal de justiça e uma lente da universidade de Coimbra (3).


(1) Para a evolução demográfica, transcrevemos dados recolhidos nos censos de 1864 e 1878, de J. da Costa Brandão e Albuquerque, época em que a obra se insere.






Nesta época Cabeceiras de Basto era somente julgado e pertencia á comarca de Celorico de Basto (cabeça de comarca de 2º classe).
Eram freguesias cabeça de distrito de juiz de paz: Arco, Cabeceiras de Basto e Refojos.
Quanto á divisão judicial, Cabeceiras de Basto era já comarca com sede em Refojos.

Da Wikipédia transcrevemos a evolução demográfica do concelho.








(2) O montante do rendimento era condição para se ter direito de voto.

(3) – Aqui está a assunto a desenvolver convenientemente, identificando as pessoas em causa.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CABECEIRAS DE BASTO NOS ANOS 70 DO SÉC XIX - 2





Esta semana passamos então a transcrever a monografia que deu causa a este pequeno trabalho.
Pode ser encontrada na Biblioteca Nacional, em Lisboa.
Para maior facilidade de identificação, o texto está em itálico e manteve-se a ortografia original.

*
“O concelho de Cabeceiras de Basto está situado em uma bacia, que tem d’estensão 30 kilometros, de N. a S., e, com pequena differença, o mesmo de E. a O., o que dá uma superfície de 900 kilometros quadrados (1).
É actualmente composto de 17 freguesias, que são – S. Jorge, d’ Abbadim; S. Pedro, d’Alvite; S. Martinho, do Arco de Baúlhe; Santa Senhorinha, de Basto; S. João Baptista, de Búccos; S, Nicolau, de Cabeceiras; S. João Baptista, de Cavêz; S. Thiago, da Faia; S, Martinho, de Gondiães e sua annexa, Nossa Senhora dos Remédios, de Samão; Santa Maria-Maior, de Outeiro; Santo André, de Painzella; S. Sebastião, de Paços; Santa Marinha, de Pedraça; S. Miguel, de Refoyos (capital do concelho); Santo André, de Rio Douro; Santo André, de Villa Nume, e S. Lourenço, de Villar
(2) .
*


(1) Tem 241,8 km2.
(2) Quanto á composição do concelho, recolhemos das corografias os seguintes dados:
P. António Carvalho da Costa - O concelho tinha 16 freguesias (1706) : Santa Senhorinha, Santiago da Faia ou das bichas, S. Martinho do Arco de Bagulhe, Santo André de Vila Nune, Santa Marinha de Pedraça, S. João de Caves, S. Lourenço de Vilar, S. João de Gundiães, S. André de Rio de Ouro, S. Nicolau de Basto, S. João de Bucos, Santa Maria de Aboim, Santa Maria de Várzea Cova, Santa Maria do Outeiro, Santo André de Painzela e S, Pedro de Alvite.
Pinho Leal : (1874): Abadim, Alvite, Arco, Basto, Bucos, Cabeceiras, Cavez, Faia, Gondiães e Samão, Outeiro, Painzela, Paços, Pedraça, Refojos, Rio Douro, Vila Nuno e Vilar
Eram coutos S. Miguel de Refoios de Basto, actualmente a cabeça de concelho e sede de comarca e Abadim.
Os limites com o concelho de Fafe foram fixados pelo Decreto de 1901 (Américo Costa -1936).
Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues (1906) - 17 freguesias: Abadim, Alvite, Arco de Baúlhe, Basto (Santa Senhorinha), Bucos, Cabeceiras de Basto, Cavez, Faia, Gondiães e Samão, Outeiro, Panizzela, Passos, Pedraça, Refojos de Basto, Rio Douro, Vila Nume, Vilar de Cunhas,

Nota: Chegar a cabeceiras de Basto era uma aventura, pois os transportes disponíveis ou eram os que cada um possuía (carroças e/ ou montadas – cavalos, mulas, etc) ou a diligência.
A diligência foi, até à chegada do comboio, o único meio publico de transporte.
A sua paragem era na Boavista.


A diligência na Póvoa de Lanhoso


domingo, 31 de julho de 2011

CABECEIRAS DE BASTO NOS ANOS 70 DO SÉC XIX - 1



Todos os cultores da história local sabem quais as obras de referência a consultar quando se pretende monografar, em traços gerais, uma dada região ou localidade.
São as conhecidas corografias, sendo as mais conhecidas as seguintes:
* “Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica” – Padre António Carvalho da Costa, 1868;
* Portugal Antigo e Moderno, de Augusto Pinho Leal, 1873-1890;
* “Dicionário Corográfico de Portugal…”, Américo Costa, 12 volumes, Porto, 1929-1949;
* “Terras Portuguesas”, João Batista de Lima, 8 volumes, 1931;
Refira-se também os vários Censos, as “Memórias Paroquias”, de 1758, e o “Portugaliae Monumenta Histórica” (inquirições).
Existe ainda uma miríade de monografias especializadas, cuja referência extravasa o objectivo deste trabalho.
Quanto ao concelho de Cabeceiras de Basto, não podemos deixar de referir os esforços de Vítor Cunha, a merecerem publicação condigna e, mais recentemente, do Dr. Duarte Nuno Vasconcelos, sobre a freguesia de Cavez.
Mas, saber a que bibliografia recorrer não é o mesmo que a ela ter acesso.
Dificuldade que quem reside no interior do país bem conhece, pois estas obras ou se adquirirem, por quem tiver meios económicos para tal, ou se é obrigado a deslocar ás bibliotecas das grandes cidades, com os custo em tempo e dinheiro inerentes.
Bom seria que as Câmaras Municipais, colocassem nas suas bibliotecas pelo menos cópias dessas obras, assim facilitando a respectiva consulta, o que por certo muito contribuiria para um melhor conhecimento, pelos estudantes e outros interessados, do passado histórico da sua terra.
Tarefa essa hoje grandemente facilitada pelo meios técnicos, como a digitalização.
Um livro de elevada raridade sobre este concelho intitula-se “Descrição Abreviada do Concelho de Cabeceiras de Basto, Principalmente da Freguesia de S. Miguel de Refoyos Sua Capital”, por um cabeceirense, Lisboa, 1874.
A divulgação é essencial ao conhecimento.
Neste contexto, pretende-se somente divulgar a referida obra, transcrevendo-a, facilitando o acesso ao seu conteúdo.
Fria transcrição que se mitiga com o recurso a considerações conexas e a imagens antigas.
Hoje, a história faz-se mais pela imagem do que pela palavra.
O autor não se identifica, mas não ficaria admirado se fosse Jaime d’Abreu.
É certamente alguém ligado à área do direito.
Na próxima semana, vamos então começar a transcrever a obra em causa.